sábado, 13 de novembro de 2010

Depois da sua partida.

Você sente os pés tocando o chão, o chão frio, áspero, eu não tinha essa sensação há alguns meses e se pudesse escolher preferiria continuar aquecida contigo por todo o tempo que eu pudesse sustentar meu corpo no ar. Mas a noite anterior não tinha só trazido o chão aos meus pés, tinha derrubado com ela todo meu corpo, e eu podia sentir que nada correspondia, nenhum sistema, a não ser minha audição que insistia em ouvir as nossas ultimas palavras junto com tua ultima imagem, que eu sinceramente faço questão de não lembrar, pois ver quem você ama sofrer fere mais do que sua própria ferida, fere duas vezes.
  Mas a tempestade estava bem longe de cessar, a ferida só tinha sido aberta e acredite às vezes dói bem mais a cicatrização do que o acidente em si. Você perde o ponto de partida, o de chegada, esquece seus deveres, muda o caminho de casa, a única coisa que você sente, é exatamente o que você não deve sentir, mas ele não vem sozinho; vem acompanhado de um vazio inexplicável, e ninguém sabe do ardor até sofrer desse mal, até sentir entrelaçado em seus sonhos e dias a ausência da presença de quem já não é mais seu, de quem não ti diz mais respeito. Quando a dor não cabe mais no peito transborda pelos olhos, mas e quando os olhos incham demais?
  Então você vê o vento acalmar, a água diminuir, mas a chuva não passa, e o pior é que eu sei que vai pingar por um bom tempo ainda, que a possibilidade de trovejar e de tudo piorar não é baixa, porque eu tenho recaídas, nada mais do que sinais de vestígios e esses eu ainda posso ver na minha caixa de mensagens e na ultima pasta dentro de várias outras das minhas fotos no computador. 
   Hoje eu já não espero o meu celular tocar, quando agente tem uma dose muito alta de dor, acaba anestesiado, não posso me iludir e nem esperar algo de ninguém, ele queria que eu aprendesse a fazer, seguir, construir, então ótimo vamos lá, eu sou nova, bonita, inteligente, mais as pessoas se esquecem que eu sou apaixonada, mulher e burra. Então quando o aparelho toca, eu posso sentir o sangue passando por entre os cortes, por entre o vazio, e ele continua lá no mesmo lugar que os meus pensamentos, do mesmo jeito marrento e esquisito de todos os anos anteriores, mas... As palavras de carinhos não são ditas, as lamentações de saudades, o afeto espontâneo, é tudo tão contido agora, tudo tão planejado, nada sai daí sem ser severamente pensado e eu tive que me adaptar a isso também. Contudo, tudo continua a ser inexplicável, não tem jeito, eu posso passar horas no telefone com quem quer que seja, cinco minutos com ele me trás a adrenalina e o brilho que eu procuro desesperada e não encontro. 
  Coração? Eu não sei mais como ele esta, atualmente eu tenho procurado me ocupar de outras coisas, mesmo que essas coisas sejam, por exemplo, ‘como ser amiga do seu ex’, convenhamos eu pelo menos estou mudando o ângulo de visão, mudar de campo é um passo futuro, apesar de que sinceramente não sei se vai ser dado, enquanto lido com as imagens da minha memória eu consigo mesmo com dificuldades controlar-me, quando se tratar de carne e osso, quando se tratar de atração, de visão, tato; eu juro que não sei o que vai acontecer, o que vai ser do meu corte, dos meus olhos.
  Segue sua vida, porque eu juro que estou tentando com toda a minha força seguir a minha, o único problema é que dessa vez quando nós nos encontrarmos, eu vou ter que garantir que minha memória não vai sofrer novamente um lapso de amnésia, pois a dor que tinha se instalado pode voltar com o tempo, assim como a sua terrível ausência.

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