Falta de aviso não foi. Sabe, até o mais
nobre dos sentimentos adoece, as lembranças mais intensas podem perder a cor, o
que trazia arrepio pode passar a trazer angústia, o que era infinito ficar
esquecido entre as fotos antigas e quando revisto ser mencionado apenas como um
episódio que lhe fez amadurecer.
Às vezes é preciso tomar a decisão. Podemos
adiar, dormir, mudar de estado, de país, de amigos, trocar o número do celular
e até sumir. Há caminhos que não se abrem se algumas portas não se fecham, e
então ficamos presos, sem poder seguir e nem voltar. Decidir-se não é simples,
o certo é doloroso. Escolher uma direção significa deixar outras tantas para trás,
mas não escolher nenhuma te deixa imóvel, vulnerável a qualquer outro que já
tenha se decidido.
Então lá
estava a porta trancada, como de costume, só que agora com uma diferença; quem
chamava do lado de fora era você, e quem confirmou se todas as trancas estavam
devidamente fechadas pelo lado de dentro, fui eu. Doeu, doeu ouvir sua
voz e sentir uma vontade enorme de estar em seus braços, mas cada lágrima minha
que caía junto com tuas batidas, me traziam as noites mal dormidas, os
telefones que esperei, as brigas intermináveis, a saudade que você não calava,
a angústia de te perder de vista, as escolhas que antes eram sempre suas e eu
estava fielmente subordinada.
É, chegou ao fim assim como todas as outras
coisas que nos cercam... Uma hora ou outra todos os finais adiados irão se
concretizar, nada pode durar pra sempre. Que façamos então uma boa escolha, que
não percamos tempo e que vivamos o luto uma vez só, para que fantasmas do
passado nunca ofusquem nosso futuro.