domingo, 6 de janeiro de 2013

De uma vez por todas


  Falta de aviso não foi. Sabe, até o mais nobre dos sentimentos adoece, as lembranças mais intensas podem perder a cor, o que trazia arrepio pode passar a trazer angústia, o que era infinito ficar esquecido entre as fotos antigas e quando revisto ser mencionado apenas como um episódio que lhe fez amadurecer.
  Às vezes é preciso tomar a decisão. Podemos adiar, dormir, mudar de estado, de país, de amigos, trocar o número do celular e até sumir. Há caminhos que não se abrem se algumas portas não se fecham, e então ficamos presos, sem poder seguir e nem voltar. Decidir-se não é simples, o certo é doloroso. Escolher uma direção significa deixar outras tantas para trás, mas não escolher nenhuma te deixa imóvel, vulnerável a qualquer outro que já tenha se decidido.
  Então lá estava a porta trancada, como de costume, só que agora com uma diferença; quem chamava do lado de fora era você, e quem confirmou se todas as trancas estavam devidamente fechadas pelo lado de dentro, fui eu. Doeu, doeu ouvir sua voz e sentir uma vontade enorme de estar em seus braços, mas cada lágrima minha que caía junto com tuas batidas, me traziam as noites mal dormidas, os telefones que esperei, as brigas intermináveis, a saudade que você não calava, a angústia de te perder de vista, as escolhas que antes eram sempre suas e eu estava fielmente subordinada.
  É, chegou ao fim assim como todas as outras coisas que nos cercam... Uma hora ou outra todos os finais adiados irão se concretizar, nada pode durar pra sempre. Que façamos então uma boa escolha, que não percamos tempo e que vivamos o luto uma vez só, para que fantasmas do passado nunca ofusquem nosso futuro. 

sábado, 5 de maio de 2012

Café da manhã na cama com menta e edredon

  Não quero flores, nem as cartas e muito menos as bobagens que costumava acreditar. Não quero sonho, idealizações, não quero presentes, passeios. Não quero ser bancada, nem andar de carro, não quero almoço com a sogra, e muito menos aliança no dedo. O que tem me faltado ultimamente é carinho, olho no olho, gargalhada de doer à barriga, café da manhã na cama com menta e edredom, e aquela antiga segurança que os abraços de urso intermináveis me proporcionavam.
   Mas espera, isso tudo não significa que eu tenho necessidade de encontrar uma pessoa, não significa que o primeiro que aparecer com a cantada mais brega do universo vai me levar com um laço dourado na cabeça, e muito menos que serei mais flexível com aqueles que poderiam ter me mantido, mas que optaram pela famosa promiscuidade. Carência não anula amor próprio, não destorce minha visão, e nem apaga cicatrizes antigas. Você recebe o que permite lhe atingir, e retorna o que julga compatível a sua vontade.
  Um peso qualquer não satisfaz o que me carece. Bagabem não é sinal de conteúdo, assim, ou venha sendo capaz de trocar a minha melhor compainha pela sua, ou nem venha... Afinal, aprendi a saber esperar...
  Pegue um livro, coloque o ar condicionado no turbo, desfalque a geladeira e a locadora, desligue o celular, não vá se esquecer das meias e do travesseiro. Então, tranque a porta, está na hora de curtir a única companhia fiel da qual já tive noticias: a sua. É, isso tudo é contraditório, porque por mais que vivamos em crises de identidade constantes, a nossa companhia é a única que nos segue em cada passo, é a única capaz de controlar a alma, de orientar em meio ao desespero, de sanar a saudade, mesmo que temporariamente, e envolver em afeto interior o que está sufocado em ausência externa.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Chega!

  Sabe, eu nunca achei que fosse dizer isso. Mas meu bem, me cansei de você. É cara, venceu o prazo de validade, encheu minha paciência, ultrapassou a linha de coerência que tínhamos. E posso dizer? A culpa é única e exclusivamente tua. Mérito desse consagrado posicionamento, que antes me incomodava, e agora me entedia. Sorte sua não? Melhor deixar que você mesmo responda, mas responda baixo e bem longe ok?
  Sua indiferença conquistou meu silêncio, e esse silêncio é a única coisa capaz de expressar desprezo. Resolvi que não me doou mais a qualquer um que se apresente com uma mísera possibilidade de afeto, não insisto mais em querer resgatar cafajestes da promiscuidade, não me permito chorar, nem deixar que minha carência camufle cicatrizes antigas, ou o que eu deveria ter aprendido com elas.
  É, eu não neguei que tenho uma dificuldade enorme em estar só. É difícil viver no vazio depois que se conhece o aconchego. O vazio é nostálgico, frio, e além de me desmontar inteira em meio as novas escolhas, me faz retornar as lembranças, e as lembranças são parte de um passado, e passado é um tempo que não se pode voltar.
  Não sei viver só, mas tive que aprender a me bancar sozinha. Porque quem não se adapta, acaba sendo adaptado a outras pessoas, a outras coisas, a outras prioridades. E convenhamos, chega dessa de vivermos uma vida que não nos pertence, chega de sonhos jogados ao vento, chega de meios sorrisos descritos como extremas felicidades, chega de querer ver o que não é, e nem vai ser.