sábado, 7 de maio de 2011

Sonho bom

  Mesmo só me lembrando das cervejas, aquele cheiro de sky, cigarro e menta ocupava meu quarto e embriagava o pouco de lucidez que me restava. Como de lei nessas situações; celulares desligados e roupas perdidas por todo o apartamento, do qual eu só tive certeza que era o certo depois de algumas tentativas com a minha chave pela vizinhança.
  Não sei quanto tempo dormi, já era praticamente impossível ver o relógio, quem dirá os números dele, só sei que foi pouco, muito pouco tempo, pois quando a 'campainha' me acordou meus olhos não tinham a mínima intenção de reagirem, mas quem quer se fosse do outro lado da porta estava realmente empenhado em me fazer levantar, e como isso me custou caro.
  Lá foi-se eu e os meus pés numa trilha cheia de acessórios espalhados e para nos acompanhar aquele barulho persistente, que não cessava nem por um segundo. Eu estava de fato desorientada, mas nem por isso deixei de sentir aquela coisa estranha da qual já nem me lembrava mais. O olho mágico estava todo negro, só havia um vulto meio distorcido, e lá estava eu, estática, não abriria jamais a porta sem saber quem estava do outro lado, mais não foi preciso nomes e nem nenhuma palavra, eu vi passando por entre a fresta rente ao chão uma correntinha, a minha correntinha.
  A campainha calou-se, e naquela hora a minha sensibilidade era tão grande, que eu podia ouvir a respiração  tão conhecida do outro lado, mas as coisas ainda giravam e no fundo eu nem sabia se realmente havia alguém ali ou se só era minha imaginação aguçando-me novamente.
  O coração na boca, e a boca entre-aberta em sinal de desentendimento, lógico que eu tive que abrir a porta e depois eu me perdi, definitivamente. A visita mais inoportuna e esperada dos últimos 5 anos estava ali, na porta de casa, com aquele mais lindo sorriso 'meu', e os olhos que sempre me ganhavam fácil.
  Injusto, eu estava alcoolizada e ele havia dito inúmeras vezes que nunca iria me procurar, se não o conhecesse tanto até acreditaria que a escolha do dia e do horário fossem coincidências, mais era fato que ele sabia o que estava se passando. 
  Nenhuma frase completa foi pronunciada no resto do fim da madrugada, e logo os outros sentidos foram dando forma a minha forte tendência, pouca resistência, há tempos não ficava sem ar, sem fala, sem tudo... Os meus olhos antes sem reação, não se fechavam mais, não podia dormir, tinha medo de acordar em outro dia,  medo de ressurgir a qualquer hora, entrelaçada naquilo que só cabia mesmo em mim.
  Quando percebi, o sol iluminava todo o quarto, abarrotado de cores, sentidos e sabores, eu estava aquecida e serena, e isso logo de manha depois de uma noite de embriagues era inédito, só pude mesmo observar ainda que calada, que ao meu lado direito da cama repousava o sonho da noite passada, e foi ali que meu singelo sorriso trouxe tranqüilidade ao lado esquerdo do peito, meus olhos fecharam-se deixando nossa mistura de perfumes embarcar o sono, assim, simples, pra sempre.

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